Vítima de um tumor que torna o osso poroso, a universitária Santana Rodrigues, de 24 anos, decidiu apostar em um método até então inédito em Brasília e reconstruiu a metade do crânio extraída em cirurgia com uma prótese acrílica. O material tem rigidez semelhante à óssea. O procedimento, orçado em R$ 360 mil, foi custeado pelo plano de saúde e realizado em setembro.
A indicação foi dada pelo médico que a acompanhava. Santana procurou ajuda em novembro do ano passado, depois de perceber que o osso em cima da sobrancelha direita havia começado a crescer.
“Eu olhava para cima e aquilo já estava me atrapalhando a enxergar. Eu usava franja para poder esconder, porque dava diferença em relação ao outro lado”, lembra. “Aí começou a comprimir meu olho e estava alterando minha visão. Fiquei preocupada.”
Já na primeira consulta o profissional suspeitou que a jovem estivesse com um tumor provocado por uma síndrome rara conhecida como displasia fibrosa. Exames comprovaram a presença da neoplasia, considerada benigna. De acordo com o otorrinolaringologista e cirurgião Diderot Parreira, a doença não mata.
“O que ela faz é provocar esses tumores, que complicam. Eles vão crescendo e empurrando tudo o que está em volta – no caso da Santana, o cérebro e o olho”, explica o médico. “Não causa nem dor.”
Parreira explica que a evolução costuma ser lenta, diferentemente do que ocorreu com a jovem. O tratamento convencional é por meio de raspagem: depois de abrir o paciente e expor o tumor, médicos raspam o osso, retirando o máximo possível de material que podem. Depois, fecham o órgão e aguardam que o tumor volte a crescer para repetir o procedimento.
Também é comum colocar uma malha de titânio, que parece uma peneira de ferro. “Não dá proteção adequada, porque é maleável”, afirma o profissional.
Depois de discutir as possibilidades com o médico, Santana decidiu tentar a prótese 3D e pediu autorização ao plano de saúde. O pedido foi inicialmente negado, mas ela recorreu e obteve resposta favorável seis meses depois.
O material foi construído em uma empresa de Brasília, a partir de tomografia de alta resolução – a metade saudável do crânio foi espelhada para ser usada como referência. A confecção levou quatro dias.
A cirurgia de retirada do tumor e reconstrução levou seis horas. Três médicos se envolveram no processo, que ocorreu no dia 3 de setembro. Depois, a jovem passou três dias na UTI e ficou com um dreno na cabeça. Os pontos foram retirados duas semanas depois. Ela não precisou raspar o cabelo e não teve nenhuma sequela.
“Minha recuperação foi rápida. Tive uma boa cicatrização, fiquei muito inchada no primeiro mês, mas eu tinha um corpo estranho dentro de mim, né? Mas, depois de 30 dias começou a desinchar. E depois de 45 dias voltei a trabalhar e a estudar, a ter as minhas atividades normais”, conta Santana.