As malformações arteriovenosas (MAVs) são uma doença rara, provocada por defeitos no sistema circulatório. Entre outros problemas, elas podem fazer com que o paciente perca a coordenação motora. Uma das formas de tratamento é a radiocirurgia, técnica oferecida com exclusividade no Distrito Federal pelo Santa Lúcia. O radioterapeuta Dr. Luiz Gustavo Guimarães falou sobre o assunto ao Sua Saúde.
1) O que é a malformação arteriovenosa (MAV)?
As malformações arteriovenosas ou MAVs consistem em um defeito do sistema circulatório, ou seja, uma anormalidade vascular, cujas artérias alargadas são conectadas a leitos capilares e venosos não normais. Cerca de 80 % das MAVs são de localização supratentorial (parte superior do cérebro) e trata-se de doença vascular cerebral congênita (de nascença) relativamente rara. Sua existência é de 18 casos em 100.000 pessoas (0.01%) e a maioria dos diagnósticos ocorre entre os 20 e 40 anos de idade.
2) Quais os seus riscos?
Para a maioria dos casos, o paciente não apresenta sintoma que identifique a doença. Dependendo da localização cerebral, as malformações arteriovenosas podem causar perda de coordenação motora, tonturas, distúrbios visuais, problemas com linguagem ou compreensão, déficits de memória, confusão mental, além de sérios riscos com sangramentos no cérebro.
3) Como identificar a doença?
Quando a lesão cerebral se manifesta clinicamente, seja por comprometimento do fluxo sanguíneo cerebral ou sangramento, pode provocar algum déficit neurológico – como fraqueza de braço, perna, distúrbio da fala, etc – ou mesmo crises convulsivas. Atualmente, pela facilidade de acesso aos exames de imagem, o diagnóstico é firmado por tomografia, ressonância magnética e, principalmente, angiografia cerebral (cateteterismo).
4) Quais os tipos de tratamento para a MAV?
O principal objetivo do tratamento é a prevenção do sangramento. Isto é feito por uma supressão dos vasos patológicos que compõem a MAV. Entre as possibilidades terapêuticas temos: 1) cirurgia aberta transcraniana; 2) embolização (tratamento endovascular por cateterismo); 3) radiocirurgia. Normalmente, por tratar-se de lesão complexa, a MAV frequentemente exige uma conjugação dessas modalidades e é preciso avaliar caso a caso. Hoje em dia, pelo baixo risco e fácil acesso às artérias intracranianas, o método endovascular (cateterismo) tem sido preferido e normalmente complementado pela radiocirurgia. Já com a embolização pode-se obstruir a maioria dos vasos mal formados e, caso haja lesão residual, trata-se com radiocirurgia. Esta consiste em uma aplicação única e localizada de radiação na lesão cerebral, sem afetar o restante do encéfalo.
5) Qual o diferencial do uso da radiocirurgia para este tipo de paciente?
O diferencial do uso da radiocirurgia é ser uma técnica não invasiva, com poucos efeitos colaterais e excelente resultado. A radiação atinge exclusivamente o tecido cerebral patológico, sem prejuízo do tecido cerebral normal. Não é necessária internação hospitalar. Muitas vezes o paciente chega pela manhã e no fim do dia já está liberado para ir para casa.
6) Por que é importante realizar a radiocirurgia em um mesmo ambiente hospitalar?
A radiocirugia no tratamento de MAVs deve ser realizada em um centro de excelência com equipe multiprofissional capacitada e ambiente integrado para dar suporte ao tratamento. Entre os profissionais que atuam no procedimento estão o radioterapeuta, o neurocirurgião, o neurocirurgião intervencionista, o físico médico, a enfermeira, os técnicos de enfermagem e de radioterapia e outros, caso necessário.
É necessário que o paciente faça um estudo hemodinâmico (arteriografia cerebral), ressonância magnética de crânio e tomografia computadorizada de crânio para o melhor planejamento técnico do tratamento. Todos os exames são realizados em conjunto para que a radiação seja aplicada exclusivamente no local desejado. Sem esse complemento não é possível fazer o procedimento.